Segue um comentário
que fiz como resposta a uma postagem de um amigo com um vídeo produzido pela
BBC sobre a vida do filósofo Friedrich Nietzsche (o título dessa reflexão poderia ser, pra ser mais exato, "Nietzsche: a trajetória de um semilúcifer"):
“Excelente registro da trajetória de um
filósofo original e com uma inteligência extraordinária (só podia ser da BBC
mesmo), cuja principal contribuição para a humanidade foi sua vivência
individual em busca de um "espírito livre" que acredita na morte de Deus,
realmente ele é uma prova irrefutável, sua vida, seu sofrimento, sua doença não
assumida (talvez cancro no cérebro de origem sifilítica), o uso de drogas, sua
solidão, sua insatisfação por ter nascido e seu desejo de morrer, sua loucura
escolhida, e finalmente sua morte em total debilidade, de como é viver crendo
na morte de Deus.
Eu aprecio a desconstrução que ele faz, não do verdadeiro
cristianismo, mas da Igreja Católica, algoz do ser humano por séculos, que
impediu a esse de pensar por si mesmo. Aprecio também, como músico, a relação
dele com a música (ou com Wagner...), já falada por Schopenhauer, sobre os
curtos momentos de consolo que a arte e essa em especial permite ao sofrimento
existencial.
Sim, Nietzsche, talvez o 1o. e mais célebre punk, é prova cabal da
vida que tem direito o que escolhe a liberdade de executar sua "vontade de
poder" buscando a utopia do "super-homem" sem moral. Sua
"anti-religião", que não deixa de ser uma "religare", uma
"religare" consigo mesmo, antecedeu a disposição do homem
contemporâneo, onde a busca da liberdade deu lugar ao nada. Mas no final das
contas, o que Nietzsche prova é que o tamanho da fúria que ele tinha para
destruir mitos tinha a medida de sua própria dor, talvez a única coisa que ele
tenha conseguido realmente destruir tenha sido a si próprio.
Uma coisa temos que admitir, ele foi coerente até as últimas
consequências com o que acreditava, ou melhor com o que desacreditava.”
Já foi dito que se a ótica de pensadores como Nietzsche tivesse a menor possibilidade de ser real, ainda assim seria preferível a felicidade, nesta vida e numa próxima, alcançada pela suposta "mentira" do
cristianismo, do que a ruína legada pela "verdade" dos filósofos. A vida prática de Nietzsche
fala por si mesma, mostra os frutos que ele colheu pela opção filosófica que
fez. Com sua inteligência ele até teceu reflexões profundas e sacadas sobre a existência, mas são apenas flashes no meio de uma enorme escuridão, as pessoas por sua vez colocam num pedestal alguém que não deixou qualquer testemunho de vida decente. Quando nós, pretensos cristãos eruditos (se é que isso existe ou é preciso existir), entenderemos que por mais sábios que os sábios desse mundo pareçam, o máximo que eles conseguem fazer é mapear a extensão do vazio do coração do homem sem Deus? Sim, Nietzsche fala da morte de Deus, e ela realmente existiu dentro do coração dele, ele o matou, e pagou o preço por isso.
Se você tiver
interesse pode ver o vídeo no link abaixo:
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