terça-feira, outubro 29, 2013

Além da música erudita, a improvisação

Respeito músico erudito ou aquele que executa música somente por partitura, comecei como um, fiz oito anos do tal piano “clássico” (o termo mais correto é erudito, visto que este termo engloba todos os movimentos da grande música e não somente o clássico). A geração atual tem se interessado cada vez menos por esse estudo, que pena, perdem a técnica e o respeito pelo piano acústico que essa ferramenta oferece, além de deixarem de se apropriar de todo o conhecimento histórico da música ocidental de alta qualidade. Leitura eficiente de partitura também é recurso indispensável para quem precisa compartilhar e aprender arranjos mais rapidamente sem ter que ficar ouvindo repetidamente uma peça.
Respeito e até invejo a disposição daquele que se mantêm por anos estudando, horas a fio, para aperfeiçoar sua técnica e decodificar partituras centenárias. É claro que isso é útil, não em si mesmo, mas como princípio para aprender outros estilos musicais, como o blues e o jazz. Contudo, o músico que improvisa vai além de interpretar códigos, improvisar é um universo sem fim, não há limites para a liberdade de se propor novas ideias em cima da partitura original. Essa liberdade está diretamente ligada a um conhecimento musical mais abrangente, que vai além do erudito, ao repertório que se constrói e se consegue usar na hora certa, sim porque nem tudo cabe em tudo, tem o momento certo para cada coisa.
Na verdade muitos considerados compositores eruditos eram improvisadores, jazzmen e rockstars de seu tempo, ocorre que aquilo que eles registraram em partituras foi o que chegou até o nosso tempo e alguns, que só sabem ler partituras, acham que fazer cover dessas peças é o máximo que a música pode atingir. Não estou desmerecendo o músico que não sabe improvisar, de forma alguma, eles mantêm vivas composições históricas, procurando executá-las da forma mais parecida com aquela que foi feita originalmente pelos compositores.
Contudo a partitura original não é o final das coisas, mas só o começo, uma fuga de Bach, uma sonata de Mozart ou um noturno de Chopin devem ser estudados e executados como mandam as partes, contudo, depois disso, podem ser usados como parte do arsenal de clichês no improviso, é no improviso que o músico mostra sua identidade artística, que vai bem além de um cover de qualidade.
Músico tem que colecionar clichês, existem clichês interessantes em todos os estilos musicais, desde a música erudita até a música regional, passando pelo jazz, rock e country, quanto mais clichês na cabeça, mais rica a música debaixo dos dedos. Mas depois da música erudita, eu acredito que o blues seja base da música moderna, do pop ao fusion (que também é um pop, visto que mistura estilos, contudo com mais técnica, o que não é tão popular). Recomendo àqueles que estão interessados em improvisação a estudarem a fundo o blues, tanto para piano quanto para órgão.

Pegando um gancho nesta reflexão que foi a princípio musical, podemos usá-la como metáfora para entender o agir de Deus na vida das pessoas. Deus vai além de ser o maior músico erudito do universo, ele não interpreta pessoas limitando-se as suas partituras originais, à formalidade daquilo que planejaram de mais excelente para os homens, baseado em teorias de outros, se fosse assim a vida seria um tédio. Deus improvisa e de forma magnífica, improvisando ele recria as pessoas, expande seus horizontes, liberta-as das teorias e aparências e as reconstrói para serem semelhantes a ele.
E você, o que tem sido, uma partitura original feita por seus pais, pela sociedade, por você mesmo ou já permitiu que Deus improvisasse em você, refazendo-o, aperfeiçoando-o, enriquecendo-o com a novidade do Espírito Santo?

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